Por que o universo observável é maior do que a sua idade sugere?

A idade do universo é de 13,8 bilhões de anos, mas o universo observável tem 46,5 bilhões de anos-luz de raio. Como isso é possível?
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Antes, preciso dizer que tamanho (espaço) e idade (tempo) são coisas diferentes medidas em unidades diferentes. No entanto, certamente você caiu aqui nessa matéria por pensar: se o universo tem 13,8 bilhões de anos e a velocidade da luz é constante, como é possível que o universo observável tenha um raio de 46,5 bilhões de anos-luz?

O universo observável é determinado pela distância que a luz percorreu desde o Big Bang, há aproximadamente 13,8 bilhões de anos. Em tese, isto sugeriria um raio de 13,8 bilhões de anos-luz. No entanto, o universo observável tem cerca de 46,5 bilhões de anos-luz de raio. Essa discrepância surge da expansão do universo.

Mapa de 1/4 do universo observável. Cada ponto é uma galáxia, e as cores indicam sua distância. A linha mais externa indica a radiação cósmica de fundo. Fonte: MapOfTheObservableUniverse.net.

A expansão cósmica do universo

Redshift causado pela expansão do universo
Efeito de redshift de um fóton causado pela expansão do universo. Fonte: Rob Knop.

O universo está se expandindo desde o Big Bang. Esta expansão não é apenas o movimento das galáxias através do espaço, mas o estiramento do próprio espaço. Como resultado, a luz de galáxias distantes tem de percorrer distâncias cada vez maiores para chegar até nós. Mesmo que a luz viaje em nossa direção, o espaço por onde ela se move está se expandindo, aumentando efetivamente a distância que precisa percorrer — a maior evidência deste fenômeno está na existência da radiação cósmica de fundo em micro-ondas.

Além disso, imediatamente após o Big Bang, o universo passou por um breve período de expansão muito rápida conhecido como inflação cósmica. Este período inflacionário estendeu-se muito além do horizonte visível, tornando muitas das galáxias do universo permanentemente invisíveis para nós. Os efeitos posteriores desta rápida expansão significam que o universo observável inclui regiões do espaço que estão muito mais distantes do que o simples cálculo da idade e da velocidade da luz sugeriria.

Expansão métrica

É importante notar que esta expansão não implica que algo esteja se movendo mais rápido que a velocidade da luz. A expansão do universo é uma mudança na métrica do espaço, não um movimento através do espaço.

O conceito de expansão métrica é crucial aqui. Não é apenas que os objetos estão se afastando uns dos outros, mas a métrica que define a distância no universo está mudando. A própria estrutura do espaço está se esticando, o que permite que as distâncias se tornem maiores do que o tempo de viagem da luz implicaria. A expansão métrica do universo é um conceito fundamental na cosmologia que explica como o universo evoluiu e cresceu desde o seu início no Big Bang.

Lei de Hubble: quanto maior a velocidade radial de um objeto (medido pelo redshift), maior sua distância de nós. Fonte: Takkhi, 2019.

Uma das primeiras e mais significativas observações que apoiam a expansão métrica foi feita por Edwin Hubble, que descobriu em 1929 que galáxias distantes se afastam de nós a velocidades proporcionais à sua distância. Isto está encapsulado na Lei de Hubble-Lemaître, que afirma que a velocidade radial de uma galáxia é diretamente proporcional à sua distância de nós. Essa relação é consequência direta da expansão métrica: objetos mais distantes estão se afastando mais rapidamente.

Na relatividade geral, o tensor métrico descreve a geometria do espaço-tempo. Esta geometria não é estática, ela muda com o tempo. A expansão métrica do universo refere-se a mudanças neste tensor métrico, resultando na separação crescente de partes do universo.

“Mas o Big Bang é só uma teoria”

Vale lembrar que a expansão do universo não é “só uma teoria”, é um fato comprovado pela observação do desvio para o vermelho de objetos distantes, como quasares. Milhares de observações e medidas realizadas ao longo de décadas, leis já comprovadas como a lei de Hubble (acima), assim como uma série de teoremas matemáticos da cosmologia, como a métrica de Friedmann–Lemaître–Robertson–Walker e o tensor de curvatura de Riemann, nos dão modelagens de como o Big Bang e a expansão do universo ocorreu — e ainda ocorre.

Lembre-se que uma teoria científica é composta por uma série de evidências e postulados que explicam determinados fenômenos físicos.

Mas, é claro, ainda há muito o que ser descoberto! O problema da matéria escura e da energia escura são apenas dois dos maiores problemas em aberto da Física que interferem diretamente nas teorias cosmológicas atuais.

Brunno Pleffken Hosti

Professor. Graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Extensão em Astrofísica pelo IAG/USP e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador nas áreas de astrofísica observacional e espectroscopia.

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