O que é a radiação Hawking?

Segundo Stephen Hawking, buracos negros emitem energia térmica e podem simplesmente "evaporar". O que é esse fenômeno misterioso?
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Stephen Hawking

O físico inglês Stephen Hawking (1942–2018) foi uma das maiores mentes da física do século XX. Superou suas limitações devido à esclerose lateral amiotrófica e, além de um físico brilhante, também era um exímio divulgador científico, escrevendo obras que se tornaram best-sellers, como Uma Breve História do Tempo e O Universo Numa Casca de Noz.

NOTA: Recomendo ambos, devo ter lido umas 5x cada um, e acredite, para um livro de física estar na lista dos mais vendidos do mundo, o cara tem que ser muito bom.

Além de divulgador científico, Hawking também teve importantes contribuições para a astrofísica, mais especificamente, para a cosmologia e a física relativística dos buracos negros. No ramo dos buracos negros, sua contribuição mais famosa recebe seu nome: a radiação Hawking.

Mas o que é a radiação Hawking?

Antes de prosseguir, precisamos voltar para alguns conceitos da mecânica quântica — mais especificamente, o princípio da incerteza de Heisenberg.

O princípio da incerteza e as flutuações quânticas

Caso o princípio da incerteza ainda seja um mistério para você, aqui no Espaço-Tempo tenho uma matéria bem bonita sobre o princípio da incerteza que pode ser acessada neste link — caso precise, vá até lá, dê uma lida e depois volte aqui.

Mas, em resumo: o princípio da incerteza descreve que certos pares de propriedades físicas não podem ser completamente conhecidos — por exemplo, o momento ($\Delta p$) e a posição ($\Delta x$) de uma partícula. Quanto maior a certeza da posição, menor será a certeza do momento; e vice-versa. Ou seja, é impossível determinar com 100% de certeza a posição, o momento ou a energia de uma partícula.

$$\Delta x \Delta p \geq \frac{\hbar}{2}$$

Multiplicar os dois valores ($\Delta x \Delta p$) tem que dar sempre um número maior ou igual a constante de Planck ($\frac{\hbar}{2}$). Se um aumenta, o outro tem que diminuir para que a relação seja preservada — mas sempre com um resultado maior que zero.

Esquerda: maior certeza do momento, mas uma menor certeza da posição; direita: maior certeza da posição, mas uma menor certeza do momento. Imagem: Wikimedia Commons.

Também devido ao princípio da incerteza, não existe energia zero, pois “energia zero” seria uma certeza. Por isso, o vácuo não é completamente um vácuo, o Universo é preenchido por flutuações quânticas no campo eletromagnético. A partir dessa energia, pares de partículas e antipartículas virtuais são criados e aniquilados a todo momento, transformando matéria novamente em energia.

NOTA: a física por trás desse fenômeno é extremamente complexa, envolvendo conceitos avançados de matemática e teoria quântica de campos. Mas seguimos para os conceitos…

Enfim… a radiação Hawking

Em um buraco negro, existe uma região chamada de horizonte de eventos. É a fronteira da “sombra” do buraco negro. A partir dali, nada mais pode retornar, nem mesmo a luz.

No entanto, em 1974, Stephen Hawking teorizou que, se um par de partículas virtuais surgir exatamente na fronteira do horizonte de eventos de um buraco negro, uma das partículas pode escapar para o infinito enquanto outra fica presa no interior do buraco negro. A emissão dessa partícula errante é detectada como radiação, a radiação Hawking:

$$T_H = \frac{\hbar c^3}{8 \pi GM \kappa_B}$$

onde $T_H$ é a temperatura do buraco negro.

Ilustração da emissão da radiação Hawking.
Ilustração do mecanismo da emissão da radiação Hawking. Imagem: Physics StackExchange.

E mais! Como a energia não pode ser simplesmente criada ou destruída, a emissão dessa partícula tem que vir de algum lugar, indicando que os buracos negros emitem energia e podem evaporar — do contrário seria uma violação da entropia. Isso significa que buracos negros não são tão negros assim, eles “brilham” em certas frequências do espectro eletromagnético.

Mas a grande sacada é que a massa do buraco negro controla sua temperatura. Como a massa ($M$) do buraco negro está no denominador, isso significa que quanto mais massivo um buraco negro, mais frio ele é.

Um buraco negro com a massa do Sol ($M_\odot \approx 2 \times 10^{30}$ kg) teria uma temperatura de $T_H \approx 6 \times 10^{-8}$ K, o que é mais frio que a radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Um “micro-buraco negro” com a massa de uma montanha ($M = 10^{12}$ kg) teria uma temperatura perto dos trilhões de graus ($T_H \approx 10^{11}$ K) e se desintegraria quase instantaneamente.

À medida que a radiação carrega energia, a massa do buraco negro diminui, o que eleva a temperatura, o que o faz perder massa ainda mais rápido. Sua vida termina em uma explosão final de partículas de alta energia.

Brunno Pleffken Hosti

Professor. Graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Computação de Alto Desempenho. Extensão em Astrofísica pelo IAG/USP e pela UFSC. Pesquisador nas áreas de astrofísica observacional e telescópios robóticos.

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