As estrelas que enxergamos no céu já morreram?

Afinal, enxergamos a luz de estrelas mortas? Entenda por que essa pergunta pode causar confusão e muitas respostas incorretas.
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Essa é uma pergunta que muitos físicos e astrônomos recebem. Mas precisamos ter muito, mas muito cuidado com esse tipo de pergunta. Afinal, “enxergamos no céu” com o quê? A olho nu ou com um telescópio como o Hubble? Isso faz toda a diferença, e vamos investigar e descobrir o por quê.

A resposta mais popular…

Muitos divulgadores científicos afirmam que sim, que muitas das estrelas que vemos no céu já morreram, pois elas estão muito distantes e as luzes das explosões de supernova ainda não chegaram até a Terra — devido à velocidade da luz de aproximadamente 300 mil km/s.

Mas isso é totalmente falso para as estrelas que vemos a olho nu.

Mas por quê?

Vamos por partes…

É correto afirmar que a luz que enxergamos de Alpha Centauri é de 4,26 anos atrás, pois essa estrela está a 4,26 anos-luz da Terra; e que, da mesma forma, a luz que vemos de Deneb tem aproximadamente 2.600 anos, pois Deneb está a 2.600 anos-luz da Terra. Existem até casos extremos: a luz de Phi Cassiopeiae que chega à Terra tem incríveis 15 mil anos! Mas afirmar que vemos a luz de estrelas mortas é um erro extremamente grave.

O motivo é que a expectativa de vida de uma estrela gigante azul, como Sirius, é em torno de centenas de milhões de anos. Uma estrela como o Sol pode viver 10 bilhões de anos. Uma anã vermelha pode viver até 1 trilhão de anos.

Quando olhamos para Antares, uma estrela nos estágios finais de sua vida, estamos olhando para uma estrela cuja luz foi emitida há 550 anos. Mas Antares ainda tem cerca de 1,5 milhão de anos pela frente, sendo, portanto, impossível ela já ter explodido.

Então não, as estrelas que enxergamos a olho nu não explodiram, pois as distâncias da Terra até as estrelas que enxergamos no céu são pequenas demais perto da imensidão do tempo que uma estrela vive.

As várias estrelas do nosso Grupo Local, as estrelas mais próximas de nós.

Por curiosidade, coloquei no Google, para que o Gemini me respondesse a pergunta “enxergamos a luz de estrelas mortas?”. A resposta segue abaixo:

Explicação do Google Gemini para a pergunta “enxergamos a luz de estrelas mortas?”.

Isso também é totalmente falso. Podemos SIM saber como uma estrela localizada a 1.000 anos-luz está agora. A evolução das estrelas se enquadra no modelo de trilhas evolutivas — as estrelas seguem etapas previsíveis conforme sua massa inicial. Suas características mostram exatamente em qual estágio aquela estrela se encontra. Sua massa, luminosidade, pulsações, metalicidade, entre outros, dão detalhes sobre o estágio atual de uma estrela e uma estimativa de sua expectativa de vida restante.

É triste uma resposta dessa estar sendo propagada por IA.

E estrelas de outras galáxias?

A situação pode ser verdadeira no caso de estrelas antigas em outras galáxias, quando vistas por telescópios extremamente potentes, como o Hubble ou o James Webb.

M77 (NGC 1068), distante 47 milhões de anos-luz de nós. Se observarmos uma estrela com um tempo de vida restante menor do que 47 milhões de anos, muito provavelmente ela realmente já morreu.

Quando olhamos para uma galáxia, estamos vendo a luz que foi emitida há milhões, ou até bilhões de anos. Uma estrela como Antares (com “apenas” 1,4 milhões de anos restantes) localizada numa galáxia distante 50 milhões de anos de nós, por dedução, claramente aquela estrela já morreu. Mas, se nessa mesma galáxia enxergarmos uma anã vermelha, que pode ultrapassar 1 trilhão de anos de vida, essa estrela pode ainda estar lá, firme e forte.

Mas lembre-se, essa afirmação só é verdadeira em observações intergalácticas, com o auxílio de telescópios em observatórios profissionais. Para as estrelas vistas a olho nu, a afirmação de que já morreram é completamente falsa.

Brunno Pleffken Hosti

Professor. Graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pós-graduado em Computação. Extensão em Astrofísica pelo IAG/USP e pela UFSC. Pesquisador nas áreas de astrofísica observacional e telescópios robóticos.

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